Um protozoário vive dentro de uma célula que deveria mata-lo

Pesquisadores da Escola Paulista de medicina da UNIFESP identificaram novas pistas de como o parasita causador da leishmaniose invade as células de defesa do organismo e, uma vez no interior delas, retarda a ativação do arsenal imunológico que deveria elimina-lo. O material genético do protozoário Leishmania amazonensis, foi sequenciado, esta espécie encontrada predominantemente na Amazônia provoca uma forma mais rara e deformante de leishmaniose cutânea. Então compararam com o material genético de uma espécie-irmã, exclusiva da América Central, também marcada pelo desenvolvido de lesões na pele semelhantes às da hanseníase. Um dos objetivos era identificar os genes, e consequentemente as proteínas por eles codificadas, que permitiriam ao parasita viver camuflado no interior das células de defesa, sem prejudicar o hospedeiro.
Usando ferramentas de bioinformática, os pesquisadores chegaram a duas proteínas candidatas a explicar porque o parasita consegue sobreviver harmoniosamente com as células que deveriam mata-lo. Essas proteínas pertencem à classe das chamadas heat-shock proteins, que também são produzidas pelo hospedeiro do parasita - em geral, roedores e seres humanos. Em colaboração com grupos do laboratório Nacional de Biociências (LNBio) e do Laboratório de Genômica e Expressão da Universidade Estadual de Campinas, a equipe obteve indícios de que a proteína fabricada e liberada pelo protozoário parece imitar a do hospedeiro. Os pesquisadores suspeitam de que essa imitação permitiria a ligação dessas proteínas a componentes do arsenal imunológico do indivíduo infectado, bloqueando sua ativação e silenciando a resposta inflamatória.
O estudo também investigou que genes estariam relacionados à formação de uma bolsa que abriga o parasita no interior dos macrófagos, as células de defesa que os englobam e tentam destruí-los. Nela, o parasita se multiplica e resiste a eventuais ataques do sistema imunológico. No caso da Leishmaniose amazonensis e da sua espécie-irmã a L. mexicana, essa bolsa é bem mais espaçosa do que as formadas por outras espécies de protozoário causadores da leishmaniose.
De acordo com os pesquisadores, juntas, essas estratégias também permitiriam ao parasita permanecer camuflado no organismo infectado, sem desencadear os sintomas que se manifestam em pessoas com o sistema imunológico fragilizado. Essa convivência pacífica, especialmente para o parasita, é vantajosa quando não há a morte do hospedeiro.
Um dos próximos passos agora é isolar as bolsas (vacúolos) formadas por essas espécies de Leishmania e tentar mapear seus componentes. Esse mapeamento dependia das informações do genoma do L. amazonensis, agora sequenciado e disponibilizado para comunidade científica.


Fonte:
ANDRADE,R.O. Revista FAPESP.





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